A consciência é
um assunto muito negligenciado na psicologia e psiquiatria modernas. O
seu substituto neutro, o assim chamado superego freudiano, não pode
explicar a dinâmica psicológica da consciência moral autêntica
do homem. O superego é definido como a soma de todas as regras
aprendidas de comportamento. O “bom” e o “mau” comportamento não
dependem de valores absolutos, mas de códigos culturais essencialmente
arbitrários. A filosofia que está por trás dessa teoria afirma que as
normas e os valores são relativos e subjetivos: “Quem sou eu para dizer o
que é bom ou não para você, o que é normal ou anormal?”
Mas, na
verdade, todos, inclusive o homem moderno, de um modo, ou de outro, ora
com maior clareza, ora com menos precisão, “sabe” da existência de leis
morais “eternas”, como já eram chamadas pelos antigos, e reconhece
espontaneamente o roubo, a mentira, a fraude, a infidelidade, o
assassinato, o estupro e assim por diante, como intrinsecamente maus (maus em si mesmo) e a generosidade, a coragem, a honestidade e a fidelidade como intrinsecamente boas,
belas. Embora a imoralidade e a moralidade sejam em geral mais
evidentes no comportamento dos outros (Wilson 1993, 11), ainda
percebemos essas qualidades em nosso próprio comportamento. Há uma
percepção interior da iniqüidade intrínseca de certos atos e planos, por
mais que o ego esteja inclinado a reprimir essa percepção para não
precisar abandonar esses atos e planos. Esse juízo interior moral do eu é
obra da consciência autêntica. Embora seja verdade que certas
manifestações de autocrítica moral sejam neuróticas e que as percepções
da consciência possam ser distorcidas, de modo geral a consciência
humana aponta para realidades morais objetivas, que são mais do que
simples “preconceitos culturais”. Iríamos longe demais se quiséssemos
reforçar esta opinião com dados e fatos da psicologia. Para o observador
crítico, entretanto, as evidências da “consciência autêntica” estão em
toda parte.
Essas notas
não são supérfluas, porque a consciência é um fator psíquico facilmente
esquecido na discussão de um tema como a homossexualidade. Por exemplo,
não podemos passar por alto o fenômeno da repressão da consciência,
que de acordo com Kierkegaard é muito mais importante do que a
repressão da sexualidade. A repressão da consciência jamais é perfeita,
nem mesmo no chamado psicopata. No fundo do coração, permanece certa
consciência da culpa ou, segundo a terminologia cristã, de pecado.
O conhecimento
da consciência autêntica e sua repressão é extremamente importante para
todo tipo de “psicoterapia”. Porque a consciência é sempre um
participante na motivação e no comportamento. Os terapeutas que não têm
visão destes fatos não podem realmente entender o que se passa na vida
interior de muitos clientes e correm o risco de interpretar mal aspectos
importantes de sua vida de um modo prejudicial. Não utilizar a luz da
consciência de seu cliente, por mais obscura que seja, significa que
fracassaremos em descobrir os melhores meios, as melhores estratégias.
Dentre os cientistas modernos do comportamento, ninguém mais do que o
famoso psiquiatra francês Henry Baruk (1979) destacou tão enfaticamente a
função central da consciência autêntica – mais que o seu sucedâneo
freudiano – na personalidade, mesmo em pacientes com sérios distúrbios
mentais.
Em nosso
tempo, porém é muito difícil para muitos convencer-se de que, além da
existência dos valores morais absolutos, deve haver também valores
morais universais no campo da sexualidade. Mas apesar da ética sexual
liberal predominante, muitos tipos e desejos de comportamento sexual
ainda são geralmente chamados “sujos” ou “repugnantes”; em outras
palavras, os sentimentos dessas pessoas com relação ao sexo imoral na verdade não mudaram (sobretudo quando se referem ao comportamento dos outros).
O prazer sexual procurado exclusivamente para sua própria satisfação,
com ou sem a assistência de outra pessoa, desperta sobretudo sentimentos
de aversão e até repugnância em outras pessoas. Por outro lado, a
autodisciplina na sexualidade normal – castidade é o termo cristão – é quase universalmente respeitada e honrada.
O fato de as
perversões sexuais serem sempre vistas em toda parte como imorais se
deve ao seu caráter antinatural e à sua falta de sentido e objetivo,
como também à sua natureza totalmente centrada no eu. Da mesma forma,
entregar-se à gula sem freios, beber desbragadamente e cobiçar as coisas
materiais são comportamentos sentidos pelos outros, por aqueles que
observam tais comportamentos como repulsivos. O comportamento
homossexual por isso é um comportamento sexual que inspira nojo nas
outras pessoas. Esta é a razão por que os homossexuais que defendem seu
estilo de vida não chamam atenção para suas práticas sexuais, mas em vez
disso, concentram-se na representação do “amor” homossexual. E para
contra-atacar a aversão psicologicamente normal às atividades
homossexuais, eles inventaram a idéia da “homofobia”, pervertendo assim o
que é normal em algo anormal. Muitos deles, porém, admitem que se
sentem culpados por seu comportamento (uma ex-lésbica, por exemplo,
descreve seu “senso de pecado” em Howard 1991), e não só os de formação
cristã. Muitos exprimem a aversão de si mesmos depois de terem tido
contatos homossexuais. Sintomas de culpa estão presentes mesmo naqueles
que proclamam que seus contatos são coisas apenas lindas. Certas
manifestações de inquietação, de tensão, uma incapacidade de verdadeira
alegria, uma propensão para acusar e provocar podem ser atribuídas às
reações da “consciência culpada”. É difícil realmente para os viciados
em sexo reconhecer subjacente nas suas profundezas da alma uma
insatisfação moral consigo mesmos. O desejo sexual tende a obscurecer os
sentimentos morais geralmente mais fracos que, entretanto, não podem
ser totalmente sufocados.
Na verdade, o
argumento melhor e mais decisivo para um homossexual usar contra a
condescendência com suas fantasias é seu mais íntimo sentimento com
relação ao que é puro e ao que é impuro. Como, porém, trazer isso à luz
clara da consciência? Pela sinceridade consigo mesmo e pela reflexão
serena, aprendendo a ouvir a consciência e aprendendo a não ouvir
em seu íntimo argumentos deste teor: “Por que não?” ou “Não posso
deixar de satisfazer essas exigências” ou “Tenho o direito de seguir a
minha natureza”. Reserve algum tempo, algumas semanas, para esse
processo de aprender a ouvir. Caminhe um pouco e coloque para si mesmo
esta questão: Se eu cuidadosamente e sem preconceito me abrisse aos
estímulos mais profundos da consciência, como me sentiria com relação ao
meu modo de vida homossexual? E me afastaria desse comportamento? Só um
ouvido sincero e corajoso, disposto a ouvir a resposta, é capaz de
perceber as diretrizes da consciência.
Extraído de “A batalha pela normalidade sexual – Gerard J. M. Van Den Aardweg, PH.D.”
Gentilmente cedido pelo site Closet Full o qual conheci há alguns dias e que já tem me feito extremamente bem... Agradeço ao Senhor por me direcionar, alimentar meu espírito e pela iniciativa dos produtores do site. Peço a Deus que os abençoe e que eles possam ajudar a muitos nessa jornada!